segunda-feira, setembro 24, 2007

Despertar para o Amor

Um lento amanhecer iluminava as ruas ainda desertas. Joana estacionou o carro e caminhou rapidamente para o seu apartamento. As últimas energias que a muito custo mantinha permitiram-lhe apenas beber um iogurte e engolir uma bolacha. Só queria esticar-se na cama e apagar do corpo as 20 horas de trabalho. O sono não tardou a envolvê-la e Joana entregou-se ao alívio do descanso.

Pouco tempo volvido e, apesar de querer continuar a dormir, algo insistia em incomodá-la. Por entre a névoa do sono apercebeu-se de um som cada vez mais presente. Parecia um saxofone mas bastante desafinado. Tentou convencer-se de que devia estar a sonhar mas já era tarde demais, a realidade atingiu-a como uma pancada. Levantou-se num gesto brusco, extremamente irritada.


O som vinha do apartamento do lado, o que era uma surpresa, uma vez que os vizinhos tinham vendido a casa há mais de um mês e ela não sabia que os novos moradores já estavam instalados. Pelos vistos tinham chegado e não eram nada sossegados.

Já passava das 10 horas, na prática Joana não podia fazer nada pois a maioria das pessoas estava a trabalhar naquele horário. Para mal dos seus pecados, além de ter ficado de plantão durante dois turnos no hospital, agora não podia descansar. Joana ligou a televisão e correu os canais sem que encontrasse alguma coisa que lhe prendesse a atenção. Era demasiado cedo até para que a programação televisiva tivesse o mínimo de interesse. Resolveu tomar um bom banho e sair de casa, antes que o novo vizinho ficasse a conhecer o seu mau feitio em primeira-mão.

O sol brilhava intensamente, apesar de ser Outono, e um calor agradável proporcionou a Joana um passeio descontraído no parque. Quando regressou ao prédio encontrou a porteira que logo a colocou a par das novidades. Afinal era só um o vizinho, um jovem músico, com muito bom aspecto, segundo a idosa. Não prestou muita atenção aos detalhes pois reparou que o barulho tinha terminado e só pensava em voltar para a sua cama acolhedora.

Durante o mês seguinte, cada vez que trabalhava no turno da noite Joana não conseguia descansar de manhã. O vizinho continuava no exercício de desafinação e ela via-se obrigada a sair de casa para não tomar nenhuma atitude drástica.


Joana não era uma pessoa paciente e chegou o dia em que saltou da cama, vestida apenas com o seu pijama dos ursinhos e foi bater à porta do vizinho. Vinha esgotada do trabalho, a ala pediátrica tinha sempre muito movimento e a falta de pessoal não ajudava. Só queria uma coisa: dormir, e aquele barulho tinha de acabar e era já!

A porta abriu-se e um grande vulto masculino encheu a entrada. Joana teve que olhar para cima para conseguir ver o rosto do vizinho misterioso. Uns intensos olhos azuis observavam-na intrigados. Joana sentiu-se envergonhada pela figura em que se encontrava. Balbuciou qualquer coisa e tentou dar ênfase à sua versão dos acontecimentos. O vizinho foi bastante compreensivo e prometeu passar a ensaiar de tarde.


Com o alívio de ter posto um ponto final naquela situação desagradável, o sono foi curto mas poderoso. Sentindo-se revigorada, Joana decidiu dar um passeio. Nada poderia abalar a sua boa disposição! Abriu a porta e tropeçou. Estatelada no chão, reparou que tinha um vaso de flores derrubado em cima do tapete. Bela porcaria! Terra por todos os lados e uma flor desfeita!

Depois de limpar aquela confusão, pegou no envelope manchado de terra, que acompanhava o presente inesperado. O vizinho, que pelos vistos se chamava Ricardo, para redimir-se do estrago feito à sua sanidade, oferecia-lhe alguns convites para ir ao bar onde ele tocava. O primeiro impulso foi atirar com os convites e a planta para o lixo. Acabou por tirá-los do caixote e arrumá-los a um canto da cozinha, até decidir se ia ou não aceitar o convite.

A curiosidade foi mais forte do que a irritação. No fim-de-semana seguinte, Joana combinou com umas amigas e foi até ao tal bar de jazz. Ficou surpreendida quando ouviu o Ricardo a tocar, pois finalmente o som parecia estar afinado. Confirmou a sua primeira impressão: ele era um homem bastante atraente! A forma como as suas mãos e a sua boca tocavam no saxofone foi o suficiente para a arrepiar.


Quando terminou a actuação o músico dirigiu-se à mesa de Joana com um enorme sorriso. Entabularam uma animada conversa e Joana nem reparou quando as amigas se despediram. Ficaram apenas os dois e ela perdeu todo o rancor que ainda lhe restava pelas horas de sono que ele lhe tinha feito perder.

No final da noite, Joana apercebeu-se de que ele não era um simples músico, mas também o dono do bar. Ficou intrigada, se ele trabalhava de noite e de manhã já estava a fazer barulho, quando é que dormiria? O segredo, confessou-lhe Ricardo, era aproveitar todos os momentos para relaxar e acima de tudo nunca perder o sentido de humor.

Mais uma vez, Joana recebeu o amanhecer acordada, mas ao contrário dos outros dias, não tinha a mínima urgência em voltar para casa. O Ricardo fascinava-a por ser tão diferente dela. Enquanto as horas passaram, entre eles nasceu uma cumplicidade e um forte desejo. Quando o sol surgiu no horizonte, encontrou-os num abraço apertado, os lábios numa entrega total e completamente despertos. Joana descobriu que existem muitas maneiras de recarregar as energias, e Ricardo era a pessoa indicada para a ensinar.

domingo, julho 15, 2007

Colisão de Amor

O trânsito estava caótico e Marília começava a perder a paciência. Quando se viu livre da confusão, passou para a faixa da esquerda e acelerou atrás de um carro preto. Distraída, com a mão direita tentou abrir o feEle insistiu em levá-la até casacho da mala, que estava no banco ao lado, à procura de umas pastilhas. Praguejou baixinho, quando a tarefa mostrou ser mais complicada do que parecia, mas não desistiu. Quando conseguiu finalmente abrir a mala, mergulhou a mão no meio das inúmeras coisas que tinha lá dentro. Manteve o olhar preso na traseira do carro preto, enquanto tacteava, sem êxito, a grande confusão que reinava na mala. Irritada, desviou o olhar por um segundo para ver se descobria as malditas pastilhas e, quando deu por isso, estava quase em cima do carro preto, que entretanto tinha travado a fundo. Pisou o travão com força e sentiu o carro a guinar, fora de controlo, apercebendo-se que não ia conseguir parar a tempo.

Viu o olhar estarrecido do condutor do carro preto que,

através do espelho retrovisor, notou a sua aproximação sem nada poder fazer para a evitar. Quando os dois veículos colidiram, Marília foi projectada e bateu com a testa no volante. Não sentia dor e foi com espanto que tocou no líquido quente que lhe escorria pela face. A visão do sangue alertou-a para a gravidade da situação. À sua volta, o cenário era caótico. O carro atrás de si conseguiu parar a tempo e estava a fazer quatro piscas, evitando assim um choque em cadeia. O condutor do carro preto estava já no exterior, e olhava-a com um ar meio irritado, meio preocupado.

Continuava a sentir-se tonta e a sua visão estava a tornar-se cada vez mais desfocada. Tentou respirar fundo. Estava a entrar em pânico. Que dor intensa na cabeça e o sangue que não estancava! A porta do carro abriu-se e uma voz preocupada questionou-a:
- Acha que consegue andar? Partiu alguma coisa? Consegue falar?

A enxurrada de perguntas não estava a ajudar e Marília tentou falar, sem sucesso. A sua voz parecia estar escondida, perdida no meio da confusão. Um braço forte puxou-a para fora do carro, com firmeza mas também com cuidado. Marília fechou os olhos, pois a luminosidade matinal feriu-a e o sangue que lhe escorria da testa também não ajudava. Alguém teve a preocupação de tentar estancar o sangue e ela gemeu debilmente pois o contacto, embora delicado, provocou-lhe uma dor intensa. Por mais que tentasse estava a perder o controlo do seu corpo, como tinha perdido o do carro e uma fria escuridão arrastou-a para a inconsciência.

Já não sentia dor mas sentiu-se perdida quando abriu os olhos e percebeu que estava no hospital. A lembrança do infeliz acidente veio-lhe à memória e Marília sentiu-se tremendamente idiota. Tanta chatice por causa de uma mísera pastilha! O médico foi muito atencioso e alertou-a quanto à necessidade de repousar nos próximos dias, mesmo não lhe diagnosticando nada de grave. Descobriu, para sua surpresa, que o condutor do carro preto estava à sua espera. Ia ser embaraçoso ter de enfrentar a vítima da sua distracção!

O homem mostrou-se muito solícito, insistindo em levá-la até casa. De certa maneira, a oferta veio mesmo a calhar. Marília morava sozinha e a família estava muito longe, na Madeira, a sua terra natal. Tinha alguns amigos mas preferia não incomodá-los. No trajecto para casa, Marília observou discretamente Leonel, a sua vítima incauta. Ela estava a tentar afastar a memória do acidente, sem conseguir controlar o pânico. Leonel quebrou o silêncio para informá-la de que ambos os carros estavam na oficina. Sugeriu ainda que resolvessem a questão amigavelmente. Marília reconhecia plenamente a sua culpa e estupidez, não havia razão para opor-se. Preencheram a declaração amigável e o Leonel saiu da sua vida.

Alguns dias depois, Marília teve que retomar a sua rotina e voltou a conduzir. Embora estivesse receosa, tomou muito cuidado e desta vez chegou sã e salva ao seu destino. O acidente pertencia ao passado, apesar da cicatriz na testa que teimava em recordá-la, e da lembrança dos olhos verdes de Leonel no espelho retrovisor. Não estava assim tão mal que deixasse de reparar na sua imponência e elegância, e a memória do toque carinhoso quando a retirou do carro. Não conseguia evitar uma certa melancolia. Se ao menos tivesse uma desculpa para entrar em contacto com ele… quem lhe mandou assinar a declaração amigável tão prontamente!

O destino parecia estar do lado de Marília, duas semanas depois recebeu um telefonema de Leonel, que a informou de que ela tinha preenchido mal os papéis. Encontraram-se num Sábado à tarde e acabaram por ficar imenso tempo a conversar. Marília gostaria de ser um pouco mais atrevida, porque mais uma vez o viu despedir-se sem perspectivas de um novo encontro.

Marília agradeceu a todos os santos quando o Leonel lhe voltou a telefonar: desta vez foi ele quem se enganou a preencher os papéis. Encontro marcado para sexta-feira à noite proporcionou um jantar a dois. Cada nova característica que Marília lhe descobria deixava-a fascinada por aquele homem. Sensível, com bom senso, divertido e com uma tendência para fazê-la sentir segura. Mais uma vez, despediram-se sem que o Leonel demonstrasse interesse em marcar um novo encontro. Marília compreendia, afinal ele não a devia ter em grande consideração, depois de ela lhe ter espatifado o carro, ainda por cima, por causa de uma pastilha.

O cartão com o contacto de Leonel estava mesmo ao lado do telefone e ela sentia uma forte tentação em ligar-lhe sem arranjar coragem para o fazer. Felizmente ele tomou a iniciativa. Ao ouvir a sensual voz masculina, Marília quis saber qual dos papéis estava mal, dessa vez. O Leonel largou uma gargalhada e respondeu-lhe que estava tudo bem encaminhado. Marília ia desmaiando quando ele lhe disse que agora podia passar para coisas mais importantes e convidou-a para jantar. Quando ela quis saber a razão, ele riu-se novamente e disse que queria agradecer-lhe pela distracção oportuna, que fizera com as suas vidas se cruzassem.

quinta-feira, maio 24, 2007

Planos Perfeitos


Susana desligou o telefone com um sorriso estampado no rosto. Estava tudo combinado, para a surpresa que planeava fazer ao namorado. Ao fim de oito anos de namoro, por vezes, a imaginação começava a falhar. Desta vez, tinha certeza de que ele ia ficar todo derretido. O fim-de-semana de S. Valentim ia ser a desculpa perfeita para a tal escapadinha que andavam a pensar fazer há meses.


Graças ao conselho da Liliana, ia levá-lo até Alcácer do Sal. Iam ficar num retiro no Alentejo que, pelas fotografias, parecia quase idílico. Depois, para arrebatá-lo ainda mais, tinha marcado um passeio de balão, sobre as belas planícies alentejanas. A melhor parte é que o Sebastião não fazia a mínima ideia do que ela andava a planear. Esfregou as mãos de satisfação ao imaginar o espanto do namorado quando, na sexta-feira, lhe dissesse para arrumar as malas e partir à aventura!


O resto da semana passou rapidamente, mal se viram pois o Sebastião precisava terminar um projecto e andava tão atarefado que até se esquecia de lhe telefonar. Ligava-lhe quase de madrugada, cansado. Falavam uns minutos, deitados nas respectivas camas, até que ele dormitava e caia no silêncio. A saudade era muita, mas ela sabia que aqueles primeiros tempos no novo emprego iam ser assim. O sacrifício não era em vão. Em breve poderiam finalmente marcar a data do casamento e habitar a casa que tinham comprado há seis meses.


Na quinta-feira, no entanto, Susana apanhou um susto, quando ele lhe disse, pesaroso, que ia ter de trabalhar durante o fim-de-semana, caso não acabasse o projecto na sexta-feira. Irritada com o imprevisto e com a possibilidade de ter de cancelar o passeio, ela armou uma cena triste e chegou mesmo a ameaçar terminar a relação se ele não tivesse a capacidade de cumprir o prazo do trabalho. O Sebastião não compreendeu a pressão, nem a atitude imatura dela. Acabaram numa enorme discussão.


Desta vez, quando desligou o telefone, Susana não sorria. Deitou-se na cama e deixou correr as lágrimas de amargura. Devia saber que mais valia jogar pelo seguro! Ia acabar por ter de desistir dos seus planos e ainda por cima perdia o dinheiro que dera para sinalizar o passeio e o hotel. Na manhã seguinte acordou com olheiras e uma tremenda dor de cabeça. Decidiu que, se Sebastião não podia ir, ela não ia perder a oportunidade de apreciar o programa que idealizara com tanto carinho.


Durante a tarde ainda pensou em convidar alguém para ir com ela, mas depois achou que estava a ser precipitada, havia sempre a possibilidade do Sebastião reconsiderar. Infelizmente, até à hora que tinha estipulado para partir ele não deu notícias. Tristonha, Susana fez as malas e partiu para o Alentejo sozinha. Foi a chorar o caminho inteiro, o que dificultou a condução. Perto da estalagem, já em Alcácer, percebeu que estava a ser infantil. Aqueles dias iam-lhe fazer bem, precisava de analisar se valia a pena manter a relação, pois aquele tipo de situações estavam sempre a acontecer.


O quarto era tudo o que tinha imaginado, acolhedor e romântico. O empregado achou estranho a ausência do namorado. Um pouco irritada, Susana respondeu que ele viria no dia seguinte. Desmanchou a mala e depois foi à procura de um sítio para jantar. Encontrou um pequeno restaurante típico, perto do rio e concentrou-se na sua refeição solitária. O passeio de balão era só no Domingo de manhã, por isso tinha o dia seguinte para explorar as redondezas e apreciar o sossego bucólico. Voltou para o quarto, onde tinha deixado o telemóvel. Ficou ansiosa ao olhar o visor, mas não havia nenhuma mensagem de Sebastião. Estava a ser teimoso e a castigá-la, como sempre fazia quando ficava chateado com ela. Nesses oito anos estava farta de passar por situações semelhantes. Acabavam por fazer as pazes mas nunca conseguiam ultrapassar aqueles impasses sem antes se magoarem mutuamente.


Estranhou a cama e pouco dormiu, sempre a olhar sobressaltada para o telemóvel, temendo não o ouvir tocar caso Sebastião ligasse. Acordou com o raiar do sol, tomou o pequeno-almoço e partiu acompanhada por um mapa da região. Parou em Santiago do Cacém, onde visitou as ruínas romanas. Aproveitou para almoçar por lá e depois não se conteve e tentou ligar para Sebastião. O namorado não atendeu às suas inúmeras tentativas e ela desistiu, desanimada.
Não teve vontade de continuar a sua exploração e regressou à estalagem.


Quando entrou no quarto apanhou um susto: Sebastião estava deitado na cama, a dormir profundamente. Confusa, mas doida de alegria, acordou-o com beijos incontroláveis. Era sempre assim, o amor que sentia por ele fazia evaporar todos os problemas. Ele contou-lhe que ficou a trabalhar a noite toda, até conseguir acabar o projecto. Esperava encontrá-la em casa, mas ficou surpreendido quando a irmã dela lhe relatou o seu plano perfeito. Nem chegara a dormir, viera directamente para Alcácer, ansioso por vê-la.


Afinal, o fim-de-semana acabou por ser inesquecível. Andaram pela região, foram passear de barco no Sado e depois, no Domingo, Susana surpreendeu-o com o passeio de balão. Antes de abandonarem o paraíso alentejano, Sebastião pediu-a em casamento. Até decidiram a data e tudo! Lá ia Susana embarcar em mais uma aventura e em mais planos perfeitos!

terça-feira, maio 15, 2007

O homem dos meus sonhos


Sónia sorria, divertida, ao ouvir as teorias disparatadas das amigas, assim como as suas sugestivas tácticas para “caçar” um homem. Aos 30 anos estava habituada a ser a solteirona do grupo. Como sempre, repetiu a frase habitual: “Ainda não encontrei o homem dos meus sonhos.”

- Se pelo menos saísses mais vezes… Aconselhava a Anita. – Deves estar à espera que ele te bata à porta! - O comentário provocou o riso geral.

- Cuidado Sónia. Olha que os canalizadores e os pedreiros só são giros nos filmes e nos anúncios de televisão! – Ana Clara aproveitou a deixa para continuar a massacrá-la com o assunto.

- Por falar em obras, tenho a informar que já sou a feliz proprietária de uma linda casa… - Sónia atalhou, com esperanças de conseguir mudar o rumo da conversa.

- Bela casa? Aquela coisa a cair de podre? – A Anita exclamou imediatamente. – Aquilo vai acabar por desmoronar à mesma.

- Pela vista maravilhosa para o rio, nem que fosse uma barraca! – Sónia não se deixou abater. – E o Joca já me arranjou um pedreiro que, segundo ele, faz milagres e não é muito careiro. Amanhã vai fazer o orçamento e em breve faço a festa de inauguração.

Aquela última revelação foi o suficiente para começarem todas a dar palpites para melhorar a casa e torná-la habitável. Pelo menos o assunto “homens” terminou por ali. Na manhã seguinte, Sónia aguardava ansiosa a chegada do pedreiro, em frente à sua degradada casa.

Fascinada pela paisagem perfeita nem notou a chegada de um carro. Quando ouviu chamar o seu nome, virou-se e ficou estupefacta a olhar para o homem que tinha à sua frente. O primeiro pensamento que lhe passou pela cabeça foi: “Se a Ana Clara estivesse aqui ia ter de engolir as suas palavras.”

O pedreiro parecia ter saído de uma anúncio de televisão. Alto e musculado, a pele morena dava-lhe um ar exótico e realçava os olhos cinzentos-claros. Quando conseguiu abstrair-se da figura atraente, Sónia esforçou-se por focar a atenção na conversa e não nos músculos. Por sugestão do Bruno, o pedreiro, planearam fazer apenas o necessário para que ela se pudesse mudar e mais tarde, com calma, fariam as reparações mais significativas.

Sónia comprovou, nas duas semanas seguintes, a competência do pedreiro, e nem quis acreditar quando se mudou para a sua nova casa. A rotina instalou-se e, todos os dias, Sónia chegava a casa e o Bruno saía. As conversas giravam em torno das obras, mas com a convivência ele tornou-se mais expansivo. Por alguma obscura razão, saber que ele se estava a divorciar, deixou-a mais animada do que o habitual.

À medida que as obras iam avançado a casa tornava-se cada vez mais aquilo que idealizara, e tudo graças à habilidade do Bruno, que dava também sugestões muito úteis. Aos poucos, Sónia começou a esticar o tempo que passavam juntos. Como ele morava longe, nos dias em que ficava até mais tarde, ela convidava-o para partilhar o seu jantar. O calor começava a apertar, apesar do tempo ainda estar muito instável, ora chovia torrencialmente, ora fazia um calor que até parecia que o Verão tinha chegado mais cedo. Acatando a sugestão dela, o Bruno passou a tomar banho antes de sair.

Nos dois meses seguintes, a convivência entre eles fez desaparecer o constrangimento inicial, embora ele continuasse tão reservado como sempre. Sónia sentia-se frustrada por não conseguir penetrar na concha em que ele se escondia. Alguma da sua curiosidade ficou saciada no dia em que ele chegou mais tarde, e lhe contou que vinha do tribunal, onde acabara de assinar os papéis do divórcio. A medo, ela inquiriu-lhe se ainda gostava da ex-mulher. Para sua surpresa, o Bruno afastou a reserva habitual e conversaram longamente.

Infelizmente, no dia seguinte, ele voltou à sua atitude evasiva e Sónia ficou irritada por ter-se deixado iludir. Enquanto sentia cada hora a passar, decidiu ser honesta e admitir que estava verdadeiramente interessada naquele homem. As suas atitudes desajeitadas, nada tinham servido para conquistá-lo e em breve ele acabaria a obra.

Quando saiu do trabalho foi surpreendida por uma chuva torrencial. Ficou encharcada e tiritava quando chegou à porta de casa, com as roupas completamente coladas ao corpo. Concentrada em despir-se, não reparou que o Bruno ainda estava em casa, e tomava banho mesmo ao lado do quarto. Só com a roupa interior em cima da pele, detectou as roupas dele em cima da cama. Olhou para a porta e lá estava ele, apenas com uma toalha à cintura. Ficaram imóveis durante alguns momentos, olhos nos olhos, sem saber o que fazer. O silêncio era quebrado apenas pelo som das respirações meio alteradas. Sónia não conseguia desviar os olhos daquele corpo escultural e decidiu arriscar. Pegou nas roupas e dirigiu-se até onde ele estava. Bruno continuou estático, acompanhando os seus movimentos, que Sónia esperava serem de alguma forma sensuais.

Parou quando sentiu o calor masculino debaixo das suas mãos. Tocou a medo o peito moreno, segurando a t-shirt desbotada como um escudo. Lentamente, levantou a cabeça, até conseguir olhá-lo e esperou. Sentia o coração acelerado, os olhos cinzentos nada deixavam transparecer e ela pensou: “Ele deve achar-me ridícula, vou morrer de vergonha.”

Nisto sentiu que, por debaixo das suas mãos, o coração dele também batia mais rápido. Quando sentiu a boca dele na sua, e foi enlaçada pelos braços fortes, ficou aliviada. A sua aposta tinha sido arriscada, mas valera a pena. Não podia conhecer o homem dos seus sonhos e deixá-lo partir só porque ele era tímido.

sexta-feira, maio 04, 2007

Uma viagem atribulada

Alice olhou para o relógio irritada. Como sempre, a Luísa estava atrasada e isso significava que ia chegar tarde ao aeroporto. Culpa sua, que teimava em confiar na inexistente pontualidade da irmã. Sabia perfeitamente do seu problema com os horários. Achava que havia tempo para tudo!

Se bem que, desta vez, não tinha outra alternativa. A Luísa teimou em levá-la ao aeroporto. Suspirou cada vez mais exasperada, fazia mais de uma hora que estava à seca, andando feito louca pela casa.

Aproveitou para verificar se tinha desligado o gás e a água, reabasteceu a comida do Bijou, o seu gato persa. Coitadinho, mais uma vítima nas mãos da Luísa, caso ela se esquecesse de ir vê-lo durante a sua ausência. Para jogar pelo seguro, deixou-lhe bastante alimento e água, se bem que não o suficiente para os nove dias que ia estar ausente.

Abençoados nove dias! Infelizmente nem esse pensamento a animava pois estava tão fula com a retardatária.

A Luísa lá chegou finalmente, com um sorriso enorme, como se nada fosse.
- “Acalma-te” – Disse-lhe com uma palmadinha nas costas. –“Nem parece que vais de férias para o Brasil.”

Não adiantava discutir. Alice resignou-se a aceitar o facto de estar terrivelmente atrasada. Depois, para ajudar, o trânsito estava caótico e a irmã não parava de enumerar a longa lista de presentes para ela lhe trazer. Evitava olhar para o relógio, mas o mostrador luminoso do carro não a deixava esquecer que faltava apenas uma hora para embarcar.

Assim que chegaram ao aeroporto, Alice nem deixou a irmã estacionar. Saiu do carro num ápice, apanhou as malas e voou à procura do balcão de check-in.

Estava tudo contra ela, demorou a encontrá-lo e ainda teve de ouvir um raspanete da funcionária. Sem tempo para recuperar o fôlego, dirigia-se em passo acelerado para o portão de embarque quando soou uma voz fria a entoar o seu nome no altifalante. Só lhe faltava mais essa! Com o sentimento de culpa, parecia-lhe que todos a olhavam de soslaio, como se tivesse cometido algum crime.

Só conseguiu acalmar os nervos quando se sentou no seu lugar. Agora ia começar outro tormento: o pânico de estar num avião e a iminência da descolagem. Começou a torcer as mãos, a remexer-se no assento, a olhar medrosa para a asa do avião, mesmo ali ao lado. Como parecia frágil! Na sua loucura, reparou pela primeira vez no homem que ia ao seu lado. O seu parceiro de viagem observava-a com um ar descontraído e parecia estar a divertir-se com a sua exibição de covardia.

- “Estou cheia de medo.” – Confessou-lhe amiúde Alice, perdendo a vergonha perante o desconhecido.

- “Nota-se. Mas medo de quê?” – a simpatia parecia genuína e por isso, num momento de inesperado à-vontade, ela relatou-lhe a sua relação peculiar com as alturas. Em menos de nada estavam a conversar como velhos amigos e Rodrigo, que não hesitou em apresentar-se, tomou a si a tarefa de ajudá-la a ultrapassar aquele medo infantil.

Quando o avião começou a mover-se, Alice ficou hirta no assento, apertando tanto as mãos que estas ficaram quase sem circulação. O seu novo amigo desfez o golpe tenso e prendeu a sua mão na dela.

- “Prometo que isto não dói nada.” – Brincou com as palavras pois ele era médico.
Alice perdeu-se no azul dos seus olhos e sentiu-se contagiada pela sua calma. Não podia fazer figura triste ao pé de um homem tão interessante. Acabou por fazer um pouco de fita mas graças à sua intrínseca vaidade conseguiu controlar o choro.

Uma vez no ar, nada mais a perturbou. A companhia do Rodrigo era um óptimo calmante e passaram as sete horas da viagem a falar. Quando aterraram, Alice já estava a par de todos os acontecimentos relevantes da vida dele e vice-versa. Ficou satisfeita por saber que iam hospedar-se no mesmo hotel.

O regresso a Portugal não teve qualquer semelhança com a partida atrasada. Chegou três horas antes ao aeroporto, acompanhada pelo Rodrigo e cheia de emoções novas para contar. Não havia vestígios do familiar pânico, estava serena e apaixonada. Passara todos os momentos daquelas férias ao lado dele e, na noite anterior, tinham até partilhado o mesmo quarto.

Desta vez sentou-se à janela, mas com o olhar preso no homem maravilhoso que estava ao seu lado. O Rodrigo não largava a sua mão, prometendo-lhe mais uma vez que a ia ajudar a superar o medo. Alice não quis confessar que já nem se lembrava disso, pois ele podia ficar desiludido.

Cuidava dela com tanto carinho que era uma pena desperdiçar aquele momento. Portanto só lhe restava fingir, fazer um pouco de fita e deixá-lo ser o seu guardião. Com ele ao seu lado, como é que Alice podia pensar em outra coisa senão em nunca mais deixá-lo sair da sua vida? Antes muitas viagens atribuladas acompanhada do que sozinha e sem pânico.

segunda-feira, abril 23, 2007

Remédio Santo

A sorte dentro do azar



Detestava hospitais, não que tivesse algo contra o serviço prestado pelos profissionais da saúde, apenas odiava precisar desses mesmos serviços. Magda sentia-se como se tivesse sido atropelada por um autocarro. Podia ser exagero, mas era assim que ela se sentia, as dores corroíam-lhe os ossos e diluíam-lhe o bom humor num oceano de fel e irritação. A sala de espera estava apinhada de gente doente, ouviam-se amiúde os queixumes habituais, o que nada contribuía para melhorar a sua disposição.


Volta e meia, uma voz abafada no altifalante, chamava pelos pacientes e indicava a respectiva sala. Nunca mais chamavam por ela e, começou Magda a ponderar, dali a pouco ia começar a delirar com a febre e já não percebia nada do que lhe dissessem. Finalmente chegou a sua vez, levantou-se vagarosamente e avançou cambaleante até à respectiva sala.


O médico parecia demasiado jovem, foi o primeiro pensamento que lhe ocorreu. Meio azeda, esforçou-se para falar, com a réstia de voz que ainda conseguia reunir. Não precisou de falar muito, o médico auscultou-a e mandou-a para as urgências a fim de fazer uma série de exames. “Que bom, mais umas horas à espera e ainda vou ter de tirar sangue.” A sua fobia de agulhas deixou-a em pânico até chegar a hora de a enfrentar.


Duas horas depois voltou à sala e ao mesmo médico, que ainda lhe parecia demasiado jovem. Com um sorriso complacente, o doutor lá lhe diagnosticou uma faringite aguda, e mais uma série de infecções com nomes nada agradáveis. Saiu com uma longa receita na mão e uma vontade louca de se deitar e esquecer-se do mundo.


Quatro dias depois e Magda continuava sem conseguir falar, a febre não baixava e, pelos vistos, a sua faringe não apresentava melhoras. Sem outra alternativa, voltou ao hospital, numa madrugada abafada, talvez resultado da febre alta. Ao entrar na sala deparou-se com o mesmo médico, que ainda se lembrava dela. Após mais uma série de exames e o diagnóstico continuava nada agradável. Desta vez o remédio era em forma de injecções, as suas velhas inimigas de sempre.


Quando voltou à rádio onde trabalhava, ainda meio convalescente, Magda só esperava não ficar sem voz em pleno ar. Ao apresentar o noticiário da manhã, ainda vacilou um pouco mas, pelos vistos, o remédio tinha sido milagroso e correu tudo pelo melhor. No final, despediu-se com um agradecimento ao talentoso médico que a curou. Não deviam existir muitos médicos com o nome de Lúcio, se bem que o sobrenome ficou esquecido no devaneio da febre.


No dia seguinte, ao chegar à rádio, bem cedo, Magda apanhou um susto ao ler os e-mails. O doutor Lúcio, pura coincidência, era um ouvinte fiel das manhãs da sua rádio e ficara lisonjeado ao ouvir o seu agradecimento, ignorando o óbvio tom irónico que ela usara. Perguntava-lhe ainda pela sua recuperação e colocava-se à disposição caso voltasse a ter alguma recaída. Ela ainda hesitou antes de responder mas a sua curiosidade jornalística falou mais alto e acabou por entrar num debate sobre o estado da saúde em Portugal. Aparentemente, o doutor Lúcio tinha opiniões formadas acerca do assunto e a discussão arrastou-se por diversos e-mails, numa correspondência que ela ansiava por receber todos os dias.


Quis o destino, e a sua falta de sorte, que a voz lhe começasse a falhar novamente, desta vez em directo e sem conseguir controlar. Assim que saiu da cabine de som, recebeu um telefonema do seu médico de serviço. Lúcio estava a ouvir e perceber nitidamente o seu problema. Convidou-a a passar pelo hospital, no fim do seu turno, para tratar o problema antes que se tornasse grave. O bom senso levou-a a aceitar a sugestão e lá foi Magda mais uma vez até à, já familiar, sala hospitalar.


Lúcio recebeu-a com um sorriso e tratou-a como se fossem velhos amigos. Afinal não era nada de grave e ele tinha o remédio certo para fazê-la recuperar a voz e eliminar a rouquidão sem dor nem sacrifício. Convidou-a para jantar e depois dar-lhe-ia a receita certa. A ceia provou ser de extremo bom gosto, a companhia era sedutora e a conversa aliciante, mas a voz de Magda não havia meio de melhorar. Por fim, foram até um bar muito apreciado por Lúcio e ele encomendou o dito remédio: um grande cálice de ponche quente.


No fim da noite e alguns remédios depois, ela estava pronta para cantar o fado. É claro que o problema desta vez não era grave, e fora apenas uma desculpa para voltar a ver o seu médico de serviço. Continuava a achá-lo demasiado jovem, devia ser do sorriso traquinas ou do calor que os olhos negros lhe provocavam. Estaria a ficar com febre?


Aquela maleita devia ser diferente das outras, pois a temperatura alta não afectava o termómetro, mas reflectia-se no rubor que teimava em queimar-lhe a face. Lúcio não perdeu a postura, recomendou que continuassem as consultas até uma plena recuperação. Magda só esperava que fossem muitas, essas maravilhosas consultas, desde que não tivesse de voltar ao hospital. Remédio santo, esse médico talentoso, que a deixava nas nuvens, e ainda fazia visitas domiciliares…

segunda-feira, abril 16, 2007

Para o Rodrigo


O PROFESSOR E A ALUNA


O professor entrou na sala de aulas e cumprimentou a turma. Lara ficou estática, a observá-lo, como fazia desde o primeiro dia em que o vira. Quando entrara na faculdade nunca tinha imaginado a possibilidade de se apaixonar por um professor. Porém, ali estava ela, embasbacada a olhar para ele, quase sem respirar. Rodrigo não era um professor qualquer, tinha apenas 22 anos e esse era o primeiro ano em que dava aulas. Lara estava no primeiro ano de enfermagem, um curso muito exigente e não podia dar-se ao luxo de distrair-se com paixões de adolescente, embora ela ainda o fosse. Os seus 18 anos suspiravam por Rodrigo, quando ele se apoiava na mesa e começava a dissertar sobre a matéria, sem nunca olhar para um apontamento. Ele era conhecido na faculdade pela sua inteligência extraordinária, que o tinha conduzido, tão cedo, a um convite para ser professor-assistente.

Naquele dia, Rodrigo estava particularmente inspirado e a aula correu muito bem. Lara esforçou-se por concentrar-se nas palavras e conhecimentos e ignorar a boca sensual e os braços musculados. Aquela era uma tentação a que teria de resistir. De qualquer forma, não havia o mínimo perigo, pois ele não olhava duas vezes para ela durante a aula. Lara sentava-se sempre na última fila, onde podia observá-lo sem dar muito nas vistas.

Não era a única a dedicar uma atenção extra-curricular ao professor. As suas colegas até conseguiam ser bem mais atrevidas. A timidez de Lara não lhe permitia outra atitude que não fosse de mera observadora. Menos mal, ou podia ver-se em situações embaraçosas. Os meses passaram e, no primeiro exame, Lara ficou muito contente porque conseguiu ter a melhor nota da turma. Quando o Rodrigo a elogiou perante todos, ela corou sobre o brilho intenso dos olhos castanhos. Não conseguia anular os sentimentos pelo professor, por mais que tentasse e isso começava a afectar os seus estudos. A única cadeira em que tinha uma nota boa era a dele, porque queria destacar-se pela inteligência.

Depois desse primeiro elogio, Lara dedicava-se a estudar ainda mais para a cadeira de Rodrigo, negligenciando definitivamente todas as outras. No final do primeiro semestre os resultados foram desoladores. Durante as férias, regressou a casa e tentou esquecer a paixoneta pelo professor nos braços do seu antigo namorado. Mais valia estar quieta. Acabou por magoar o rapaz e confirmar que estava mesmo apaixonada pelo Rodrigo. Essa constatação trouxe-lhe uma melancolia permanente, que a acompanhou no regresso às aulas.

A custo conseguiu recuperar as notas nas outras cadeiras, mantendo-se sempre constante na de Rodrigo. Ficava contente com as pequenas migalhas que ele lhe oferecia: a forma como dizia o seu nome, os elogios que amiúde lhe fazia. Depois dessas férias, ele apareceu na faculdade com uma intensa barba escura, que o deixava mais velho mas também terrivelmente sensual. Mais uma vez, andavam todas as raparigas a suspirar por ele e Lara sentia um ciúme despropositado. Corria um boato de que ele já não tinha namorada, o que fazia aumentar o frenesim em seu redor. Lara questionava-se sobre o que pensaria o professor de todas aquelas atenções.

A época de exames deixou-a em pânico. Um dia não aguentou e acabou por desatar a chorar rodeada de livros na biblioteca. Pensava que não estava ninguém por ali e qual não foi o seu espanto quando ouviu a voz de Rodrigo atrás de si.
- Lara, está tudo bem? Posso ajudar em alguma coisa?

A muito custo conseguiu controlar-se e explicar-lhe que tudo não passava de nervos, devido à pressão dos exames. O professor foi muito compreensivo e ofereceu-se para ajudá-la a estudar outras matérias. Nesse dia, ficaram até tarde na biblioteca e Lara nem queria acreditar na sua sorte. A noite apanhou-os desprevenidos. Ele convidou-a para jantar e Lara sentia-se a flutuar. Quando regressou ao seu quarto na residência, Lara estava ainda mais apaixonada por aquele homem.

Apesar de todos os seus receios e nervosismo, ela passou a todas as cadeiras e com notas razoáveis. Agora que o primeiro ano terminou, o alívio por ter conseguido resistir à tentação deixou-a satisfeita. Já tinha idade para ter juízo!

No ano seguinte, o Rodrigo não ia ser seu professor e a distância faria com que os seus sentimentos desaparecessem. Pelo menos era essa a sua esperança…

Andava o campus a fervilhar por causa da última festa antes das férias de verão. Contra a sua tendência natural, Lara decidiu comparecer.

A animação reinava na discoteca, cheia de universitários. Era uma noite para comemorar. Tinha sobrevivido o seu primeiro ano como caloira! Foi com algmuma surpresa que vislumbrou o Rodrigo, que se dirigia para a sua mesa.

- Agora já posso sentar-me num lugar público contigo sem ser acusado de assédio professor/aluna!

Lara nem sabia o que dizer, porque parecia-lhe um sonho. Seria mesmo ele, ali, sentado perto dela, copo na mão a sorrir e a contar graçolas? Desejou que a noite não terminasse, para que ficassem assim durante horas, a partilhar segredos e intimidades. Por fim, a festa chegou ao fim. O Rodrigo ofereceu-se para levá-la a casa, outra grande surpresa.

Depois de estacionar perto da residência, ele insistiu em levá-la até à porta, como um verdadeiro cavalheiro. Antes de ela abrir a porta, ele puxou-a para os seus braços e beijou-a suavemente. Confessou-lhe que andava com vontade de o fazer há algum tempo, mas enquanto fosse seu professor não podia atrever-se.

Não tinha dúvidas sobre os sentimentos dela, porque Lara era quase transparente e o seu amor estava espelhado nos olhos verdes. No meio das carícias, escondidos no canto do prédio, deixaram para trás as regras que os afastaram, e esqueceram-se definitivamente do professor e da aluna.

sexta-feira, abril 06, 2007

Mais vale tarde...

... do que nunca!

Sabia que não devia render-se à inércia que a consumia há meses. Sabia... mas ainda estava presa ao mesmo desalento desde que ficou desempregada. Nem sequer estava a aproveitar os excelentes dias de sol e calor, dignos de um verão tropical.

Como é que podia pensar em divertir-se se bastava sair de casa para gastar dinheiro? E como não podia gastar o que não tinha, limitava-se a ficar fechada em casa. Também estava cansada de dar sempre a mesma justificação cada vez que se via obrigada a recusar um convite dos amigos por falta de fundos monetários.

Por isso Adriana resistia estoicamente, convencendo-se de que até gostava de ficar por casa, a ler e a ouvir música. A sua amiga Filomena conhecia as suas dificuldades. Só que nesse dia não queria aceitar uma resposta negativa. Fez-lhe a cabeça em água, com mil argumentos pelos quais Adriana não podia deixar de ir ao piquenique do dia seguinte.

Comemoravam dez anos desde o primeiro ano na universidade e de uma amizade inabalável. Os antigos colegas tinham resolvido juntar-se, alugar uma quinta por um dia e fazer uma bela patuscada, à boa maneira portuguesa. Como é que alguém recusava um convite desses? Piscina, court de ténis e um belo relvado, aliados a quatro quilos de sardinhas, 6 quilos de febras e 4 de entremeadas… sem esquecer a cervejinha fresca e claro, as caipirinhas caseiras.

Enquanto ouvia o palavreado incessante da Filomena, fazia contas à vida e tentava encontrar uma forma de arranjar um dinheirinho que sobrasse no meio da sua pilha de contas para pagar. Estava tão compenetrada que nem ouviu quando a amiga declarou por fim:
- “Vais e ponto final. E se a desculpa é o dinheiro, deixa estar que é um presente meu e do Cajó.” Depois de largar o ultimato, a Filomena ficou à espera, em vão.
- “Estás surda ou quê? – voltou a repetir a proposta. Agora é que não havia meio de escapar!

No dia seguinte, bem cedo, Adriana despachou-se e ficou à espera da boleia da Filomena e do Cajó, o namorado da amiga. A frescura matinal deixava antever um dia ensolarado e eles percorreram entusiasmados os 60 quilómetros até à quinta. Não lhe tinha passado pela cabeça que já lá estivesse tanta gente. Deviam ser mais de quarenta, entre antigos colegas da faculdade, namorados e amigos, a maioria da qual Adriana já não reconhecia.

A vergonha passou-lhe rapidamente, ao fim da segunda "mini" já cumprimentava todos com um grande desembaraço. Estava prestes a mergulhar na piscina quando uma figura, saida das suas fantasias mais eróticas, apareceu ao seu lado. O Carlos foi a sua paixão durante todo o curso, um rapaz interessante a todos os níveis. O problema era simples: uma namorada possessiva e a preferência óbvia por mulheres quase esqueléticas.

Naquela época Adriana era bem rechonchuda e tinha um grave complexo de inferioridade. Agora, apesar de ter emagrecido drasticamente, o complexo persistia. Carlos abraçou-a eufórico, muito animado pelo reencontro. Num minuto Adriana ficou a saber que ele estava divorciado e livre como um passarinho. Ela sentiu-se elogiada pelo olhar de agrado com que ele a avaliou, acompanhado pelos insistentes comentários de como ela "estava magra e linda".

A Filomena tinha razão. Ainda bem que ali estava para receber toda a atenção com que o Carlos a brindou. Uma recompensa atrasada pelos anos de paixão ignorada. Estavam ambos na piscina quando reparou que o Cajó estava a falar com um homem que não lhe era estranho. Sem perceber, fitou-o obsessivamente, numa tentativa de forçar a mente. É claro que não se lembrou e ele acabou por apanhá-la naquele acto de contemplação descarada.

O desconhecido familiar acabou por dirigir-lhe palavra. Com uma voz grave e um sorriso sensual cumprimentou-a como se fossem bons amigos.
- “Há tanto tempo que não te via! O que tens andado a fazer?” – Agora é que a Adriana ficou sem palavras e com uma vontade enorme de afogar-se na piscina. Ele percebeu a sua atrapalhação e apresentou-se sem mostrar ressentimento.
- “ Vimo-nos poucas vezes mas não me esqueci de ti. Sou o Fábio, irmão do Carlos.” – Claro, como é que podia ter-se esquecido do irmão mais velho, que acabou o curso dois anos antes? O dia tornou-se subitamente muito interessante, com Adriana a ser disputada pelos dois irmãos, num rodopio de bebida e comida. Sem esquecer o campeonato de matrecos, em que o Fábio a convidou para ser a sua parceira. Fizeram uma dupla tão boa que arrasaram com a concorrência.

Adriana não queria que aquele dia acabasse. Não queria voltar à sua rotina infeliz. Reparou que o Carlos andava a dividir as atenções entre ela e todas as raparigas jeitosas ali presentes. Há pessoas que nunca mudam! O Fábio, por outro lado, mantinha-se discreto e sempre por perto dela, ignorando os avanços mais ousados das outras mulheres.
A diversão chegou ao fim quando a Filomena se quis ir embora. O Carlos despediu-se com indiferença. Ela não esperava outra coisa dele. O Fábio, para sua surpresa, pediu-lhe que ficasse. Ofereceu-se para levá-la a casa mais tarde, com um ar de "sem segundas intenções". Ela concordou e não se arrependeu.

O trajecto até casa sofreu um pequeno desvio. Foram admirar o céu magnífico, sobre a iluminação da lua cheia, no cais à beira-rio. Adriana não chegou a casa tão cedo, correram a noite sem pressa, ávidos por carinhos e novos projectos. Ela chegou depois à conclusão que andara a desperdiçar a paixão no irmão errado, mas vale mais tarde do que nunca!

sexta-feira, março 30, 2007

Para a Leonor


O som do meu coração

Adriana partilhava a satisfação pelo sucesso que a banda estava finalmente a ter. Ia a todos os concertos, ficava mesmo em frente ao palco, e pulava de êxtase enquanto cantarolava as músicas que já sabia de cor e salteado. A razão de tanto entusiasmo era só uma: Leandro, vocalista da banda Os Bichos e seu namorado há seis anos.


Apesar de tudo, Adriana sentia-se posta de parte, pois à medida que o sucesso dele aumentava, diminuía o tempo que passava com ela. Não queria parecer egoísta, por isso evitava falar sobre esse assunto com Leandro. Não queria levantar problemas, logo agora que tantas coisas boas estavam a acontecer na vida dele.


Havia meses que sentia a angustia aumentar, sem conseguir controlar a sensação de pânico, a cada concerto que assistia e onde via aumentar o número de fãs. Nunca fora uma namorada ciumenta mas ao ver dezenas de raparigas a gritar pelo nome dele, ansiosas por agradar, não conseguia evitar o fel da desconfiança.


Nessa noite decidiu que não ia ao concerto. Sentia-se cada vez mais deprimida e não ia aguentar as emoções contraditórias que ver Leandro em palco lhe provocava. Mais tarde arrependeu-se e teve que tomar um calmante para conseguir adormecer. Antes de se deitar, ligou para o telemóvel dele, pois o concerto já devia ter terminado há mais de duas horas. Intimamente tinha a esperança que ele atendesse e lhe dissesse o quanto sentira a sua falta. Enganou-se, pois apesar das várias tentativas, não conseguiu falar com ele.


De manhã, tinha um ar de quem não dormia há uma semana, o rosto amassado e as olheiras profundas não ajudaram à sua auto-estima. Adriana passou o dia inteiro a pensar em Leandro e ansiosa para falar com ele. O telemóvel continuava desligado e os ciúmes estavam a deixá-la louca, a imaginar os piores cenários. Finalmente Leandro ligou-lhe, já ao fim da tarde. Tinha acabado de acordar, pois a noite estendera-se até de manhã, numa comemoração animada com os outros elementos da banda.


Adriana não quis dar parte de fraca e nem fez quaisquer perguntas. Manteve-se em silêncio, a revolta a acumular-se dentro do peito. Ele nem sequer tinha sentido a sua falta no concerto! Leandro falou sem parar durante quinze minutos e nem uma vez lhe perguntou se estava bem. Ignorou-a de tal forma que, antes de desligar, lembrou-lhe que ia ter ensaios todas as noites dessa semana, por isso, só ia ter com ela no Sábado.


Aquele pesadelo não parecia ter fim. Ela arrastou-se até casa, tomou mais um comprimido e afundou-se na cama, chorando copiosamente até amanhecer, quando finalmente adormeceu. Nesse dia não foi trabalhar, acordou com febre e uma forte dor de cabeça. Acabou por ir ao médico e descobriu que tinha apanhado um vírus qualquer e ia ter de ficar em casa por uns dias. Só lhe faltava mais essa, ficar doente e confinada entre quatro paredes, sozinha e sem Leandro. Aliás, ele nem respondia aos seus telefonemas.


Quando Leandro soube que estava doente, ligou-lhe preocupado, mas completamente alheio ao seu estado de espírito. Afinal ia ter um concerto inesperado no Sábado e não sabia quando podia ir vê-la. Para Adriana aquela novidade foi a gota de água. Nem queria acreditar como o namorado tinha mudado, e para pior, nos últimos meses. Onde é que estava o amigo inseparável, o amante carinhoso e preocupado, por quem se apaixonara?


Soube pelos amigos que o auditório estava apinhado, no Sábado. De Leandro não teve notícias, nem mesmo um telefonema rápido para saber se ela estava melhor. Aqueles dias em que tivera de ficar fechada em casa obrigaram-na a confrontar-se com os seus sentimentos e todas as evidências de que a relação ia por um péssimo caminho. De certa forma, ainda bem que o tempo a fizera ver isso, antes que fosse tarde demais.


Não queria ser a última da lista de prioridades de Leandro e, se ele já não achava importante estar com ela, então era melhor terminar de uma vez com o tormento. Fez questão de deixar uma mensagem, num tom seco e directo, no telemóvel dele. Marcou um encontro, para o dia seguinte e deixou bem claro o quão importante que ele aparecesse.


À hora marcada, Leandro estava à sua porta, com ar apreensivo e um ramo de flores na mão. Não teve qualquer hipótese, pois Adriana já tinha tomado uma decisão. Em dez minutos disse-lhe tudo o que lhe ia na alma e deixou-o sem reacção. Fez-lhe um ultimato mas ele apesar de lhe pedir desculpa por tudo, admitiu que não ia mudar as suas prioridades. Ficaram num impasse e ele saiu de lágrimas nos olhos.


Durante alguns meses Adriana limitou-se a sobreviver, refugiando-se na rotina. Os Bichos eram agora um êxito e as músicas deles passavam constantemente na rádio. As recordações amargas não a deixavam em paz, e tudo lhe fazia lembrar o amor que sentia por Leandro. Nunca mais se tinham encontrado, mas falavam ocasionalmente ao telefone, só para chegarem à conclusão que continuavam na mesma. Um dia ligou a televisão e lá estava ele, a ser entrevistado num programa qualquer. Não conseguiu mudar de canal, ficou a ouvi-lo, os olhos colados ao ecrã.


Quando pegou na guitarra para tocar uma música nova, Leandro parecia emocionado. Disse que ia tocar Prioridades Trocadas e dedicava-a à mulher que amava e com quem queria casar. A olhar directamente para a câmara, disse: “Adriana, esta é para ti. Prometo que vou mudar.” A música era linda e dizia-lhe tudo o que precisava de saber. Com o coração nas mãos, ela ficou à espera, ansiosa, até que a campainha tocou e Leandro voltou a entrar na sua vida.

sexta-feira, março 16, 2007

A primeira vez...


... nunca se esquece!


A conversa estava animada mas Lucinda nem prestava atenção. As amigas divertiam-se a trocar impressões sobre os respectivos maridos. Tópico que não lhe interessava: continuava solteira e despachara o último namorado há seis meses. Portanto nada tinha para dizer que pudesse contribuir para o andamento da conversa. A sua vida sexual estava nesse momento um pouco estagnada… para não dizer outra coisa pior.

Os risos aumentavam à medida que as amigas se desbocavam sobre as peripécias sexuais. Lucinda podia não saber nada sobre a vida de uma mulher casada, mas sobre sexo ainda podia opinar! Interrompeu o histerismo colectivo com uma provocação: “Agora que são umas matronas experientes, ainda se lembram da vossa primeira vez?”

Invariavelmente, todas as respostas foram um “Claro que sim! Como é que podia esquecer uma coisa dessas?”. Lucinda não sabia o que a tinha levado a essa recordação em particular, mas talvez fosse fruto das suas constantes desilusões sexuais desde a sua primeira vez.

A pergunta levou-as numa viagem ao passado, cheio de histórias caricatas e, desta vez, Lucinda também participou. Descobriu que tinha perdido a virgindade bem mais tarde do que as amigas, aos 21 anos. Só Fausto levou ao limite da excitação, até aquele momento em que já não conseguia aguentar mais a dor quase física do prazer. Ele era mais velho do que ela três anos, e parecia ser muito experiente. Nunca a pressionou. Nem precisava! Bastava estarem juntos para que a química explodisse e a vontade fosse tanta que nem reparavam nos locais onde estavam. O velho Fiat Panda do Fausto foi palco de várias tentativas falhadas, culpa do nervosismo. E se fossem apanhados dentro do carro, de vidros embaciados e semi-nús? O receio acabou por ser esquecido entre beijos e carícias, numa tarde quente de verão, com o carro escondido no meio do pinhal.

A sua história arrancou gargalhadas divertidas das suas amigas. Curiosas, quiseram saber o que tinha acontecido ao Fausto. A história acabava mal, já se percebia: “Ele foi trabalhar para França e o namoro não resistiu à distância. Estive uns dez anos sem o ver. Minto: vi-o um dia no cinema. Estava atracado a uma morena voluptuosa. Acho que nem me viu…”

“Que pena” foi o comentário geral. A conversa mudou e Lucinda não tornou a pensar na sua paixão por Fausto.

Dois dias mais tarde, enquanto fazia compras num supermercado, Lucinda sentiu que estava alguém a olhar para ela. Sondou a zona em redor mas não viu ninguém conhecido. Devia estar a imaginar coisas, andava mesmo um pouco paranóica nos últimos tempos! Quando se dirigia para a caixa ouviu o seu nome. Virou-se e lá estava ele: Fausto, a sua primeira vez, em pessoa. Engoliu em seco. Não sabia se havia de sorrir ou de fugir a sete pés. Mesmo que quisesse não conseguia sair do lugar, tal o seu espanto e a velocidade a que as suas pulsações dispararam.

Há excepção de uns cabelos brancos, ele estava tal e qual como o recordava: ombros largos, corpo de atleta, pele morena e os mesmos olhos cinzentos. Fausto aproximou-se e cumprimentou-a com um sorriso rasgado: “Bem me parecia que eras tu!” Aquela alegria em vê-la deixou-a ainda mais desconcertada.

Finalmente Lucinda lá conseguiu articular algumas palavras: “Que grande coincidência, afinal já não te via há tanto tempo!” Deixou-se ficar pela conversa de circunstância. Fausto também não sabia bem o que dizer e, em cinco minutos, esgotaram as perguntas banais. Aproveitando o silêncio, Lucinda despediu-se e encaminhou-se para a caixa. Nisto, Fausto chamou-a novamente: queria o seu contacto. E porque não?

Lucinda chegou a casa ainda confusa. Pela lógica, não devia ter ficado tão atrapalhada, nem tão pouco com a garganta presa e um turbilhão de emoções a deixá-la tonta! Fazia tanto tempo! Não dizem que o tempo tudo cura?

Duvidava que ele a voltasse a contactar, ou pelo menos foi isso que disse às amigas. Elas incentivaram-na a ligar-lhe e a convidá-lo para sair, hipótese que Lucinda descartou imediatamente. O mais certo era levar um não redondo. Dispensava essa experiência para juntar a outras tantas desagradáveis que ele a tinha feito passar. Limitou-se a guardar o número na memória do telemóvel. Talvez um dia mudasse de ideias…

Pelos vistos o Fausto tinha mais coragem do que ela! Sábado à tarde, perdeu o pio ao ver o nome dele a piscar no visor do telemóvel. Quase não conseguiu atender, tamanha a excitação. Conseguiu aparentar alguma calma, quando ele a convidou para sair nessa noite. Aceitou sem hesitações: não tinha nada a perder!

Ficou a saber durante o jantar que afinal Fausto estava livre, após um divórcio complicado. Lucinda ficou curiosa mas não insistiu no assunto. Ele estava disponível e isso é que era importante! A velha cumplicidade surgiu naturalmente. Quando ele acidentalmente lhe tocou no braço, Lucinda descobriu que havia outra coisa que estava de volta: a paixão!

Ele levou-a até casa e Lucinda convidou-o para entrar. Não havia razões para estar com rodeios: desejava-o e não ia fingir o contrário! Foi a primeira vez que partilharam uma cama. Comodidades de serem adultos… Lucinda adorou acordar ao lado do Fausto.

Em tom de brincadeira, perguntou-lhe se ele ainda se lembrava da primeira vez. Ficou perplexa, mas feliz, quando ele lhe confessou que ainda tinha o velho carro guardado com carinho na garagem. Pelos vistos não era só ela que revivia aqueles momentos deliciosos do passado. A questão agora era outra: aproveitar a oportunidade para criar novas memórias! Lucinda prometeu a si mesma que, desta vez, não iria haver distância que os separasse.