segunda-feira, junho 27, 2005

III - Um conto em três partes


(continuação)

Cada novo toque era um tormento. Sabia que as fotografias iam ficar excelentes. Sabia que já tinha fotografado o suficiente. Sabia tudo isso mas não conseguia terminar a sessão. Cada toque era uma bênção e um tormento, mas não conseguia resistir. Por fim, nem ele conseguiu. Abraçou-a com firmeza e o beijo foi inevitável. A explosão dos sentidos arrancou Catarina da sua ténue resistência. Caiu sobre as pernas másculas e afundou-se nos braços musculosos. As suas mãos pareciam ter vida própria e percorriam a pele morena, incansavelmente.

Nessa noite entregou-se nos braços de Fernando, desfrutando de todo o prazer que aquele corpo tinha para lhe dar. Os braços tatuados envolviam-na num toque sensual. O roçar das suas peles quentes exaltava toda a sua paixão. Já não era a fotógrafa que ali estava, mas sim a mulher, sedutora e seduzida.

A exposição estava a ser um grande sucesso. As paredes brancas, anteriormente nuas e gélidas, permaneciam agora cobertas com exemplares gigantescos das suas fotografias. Catarina observava a curiosidade das pessoas, à medida que percorriam a sua obra. A cada exclamação de prazer, sorria serenamente. O centro das atenções era sempre a mesma fotografia. Do corpo masculino só se vislumbrava um pouco da parte inferior do pescoço e parava nas ancas. Mas não era no tronco musculado que os visitantes fixavam o olhar. Na parte inferior, perto do baixo-ventre via-se uma tatuagem mais recente. Na pele ainda ferida, podia ler-se apenas uma palavra: “Catarina”.


Ela tornou a sorrir, desta vez ao recordar o momento em que tirara aquela fotografia. Fernando seria sempre o seu modelo favorito, assim como Catarina era a única que tocava naquela pele onde ele declarava o seu amor, sem receios.

II - Um conto em três partes...


(continuação)


A música ambiente ajudava a criar uma atmosfera relaxada. As horas passaram rapidamente, sem que ambos reparassem. Catarina não conseguiu evitar um olhar apreciador ao homem que estava ali, bem à sua frente, nas poses mais sensuais de que se podia lembrar. Um calor agradável surgia em vários pontos-chave do seu corpo. Catarina sabia que estava a entrar em território perigoso. Quando lhe tocava para colocá-lo na posição que pretendia, um formigueiro agradável percorria-a. Sabia que algo a tinha atraído para ele, desde o primeiro olhar.

Quando deu por terminada a sessão, pediu-lhe para repetirem no sábado seguinte. Usou todos os argumentos de que se conseguiu lembrar, talvez demasiados, porque não queria que ele respondesse negativamente. As fotos podiam não ser suficientes e corria o risco de não ter captado os ângulos certos. Fernando apenas sorriu ao ouvi-la recitar tudo atabalhoadamente. Provavelmente percebeu que ela não queria deixá-lo ir, tão depressa.

A segunda sessão foi diferente. Havia uma maior intimidade entre eles. Catarina não tinha qualquer pudor ou receio em tocar-lhe e ao sentir as mãos delicadas no seu corpo, a pele morena arrepiava-se de prazer. Ela tinha espalhado pelo estúdio imensas velas, e Fernando estava deitado sobre umas gigantescas almofadas coloridas. Pairava no ar uma tensão sensual, que transparecia no movimento dos corpos, ele imóvel e ela a rodopiar à sua volta. Entusiasmada, Catarina pediu-lhe que se despisse completamente e Fernando, nada surpreendido, não hesitou...

domingo, junho 26, 2005

I - Um conto em três partes...

Estava uma linda manhã de Inverno. O Sol brilhava sem conseguir afastar o frio intenso. Aqueles dias eram os seus preferidos e Catarina gostava de vaguear pelos locais onde as pessoas se aglomeravam para desfrutar desses raios de Sol de Novembro. Observava atentamente as inúmeras pessoas que passeavam pelo parque. Com a máquina fotográfica na mão, procurava algo interessante para fotografar. A sua primeira exposição estava para breve e ainda não tinha material suficiente.

A uns metros de distância, quatro homens jogavam basquetebol. Os movimentos dos corpos musculados eram rápidos e elegantes. Catarina começou imediatamente a fotografar. Um deles parecia ser um pouco mais velho, mais de trinta anos, provavelmente. Era alto e bem constituído. No entanto, o que lhe chamou a atenção foram os seus braços cobertos de tatuagens. Com a sua potente objectiva, seguiu atenta, todos os gestos do desconhecido. Para um homem alto, movia-se com elegância, quase como um felino.

Catarina verificou que as tatuagens cobriam toda a extensão de ambos os braços e ficou curiosa. Interrogou-se quanto a outras possíveis tatuagens, em outras partes do corpo. Quando o jogo amigável terminou, dirigiu-se decidida, para o desconhecido.

- Bom dia. Desculpa a intromissão mas estava observar-vos e queria falar contigo.
O estranho olhou-a de cima a baixo, com um rasgo de curiosidade nos olhos verdes.
Em poucas palavras, Catarina explicou-lhe que era fotógrafa profissional. Depois de contar-lhe sobre a exposição, pediu-lhe que posasse para ela. Ficou um pouco ansiosa pela resposta, normalmente não teria a ousadia de fazer uma abordagem dessas mas estava a ficar desesperada.

No início, a única reacção de Fernando foi uma sonora gargalhada. Não estava interessado e tinha sido apanhado de surpresa. Mesmo assim, o olhar dele mostrava-lhe que tinha ficado curioso. Catarina tentou mais uma vez, reafirmando que não o estava a tentar engatar. Era uma profissional séria e essa era uma proposta de negócios para o qual ele seria correctamente remunerado. Ao ouvir falar em dinheiro, Fernando ergueu uma sobrancelha, como se aquela observação o tivesse ofendido. Surgiu uma tensão entre os dois que Catarina não compreendeu. No entanto, pensou que conseguia boas fotografias e isso é que interessava. Deixou o orgulho de lado e tentou desfazer a dúvida que via nos olhos verdes. Nunca soube o que foi que o convenceu, se a sua eloquência se o facto de ser uma mulher atraente. Catarina ficou satisfeita quando conseguiu persuadi-lo e combinaram encontrar-se no estúdio dela, nesse mesmo dia.

Catarina preparou o cenário, para que ficasse agradável e muito simples. A sua atenção estaria concentrada naquele corpo escultural e tudo o resto servia apenas para deixá-lo mais à vontade. Não ficou desiludida. Fernando tinha imensas tatuagens espalhadas por todo o corpo. Contou-lhe que fez a primeira aos 15 anos e que nunca mais parou. Algumas eram verdadeiras obras de arte e Catarina fotografava fascinada...