O homem dos meus sonhos
Sónia sorria, divertida, ao ouvir as teorias disparatadas das amigas, assim como as suas sugestivas tácticas para “caçar” um homem. Aos 30 anos estava habituada a ser a solteirona do grupo. Como sempre, repetiu a frase habitual: “Ainda não encontrei o homem dos meus sonhos.”
- Se pelo menos saísses mais vezes… Aconselhava a Anita. – Deves estar à espera que ele te bata à porta! - O comentário provocou o riso geral.
- Cuidado Sónia. Olha que os canalizadores e os pedreiros só são giros nos filmes e nos anúncios de televisão! – Ana Clara aproveitou a deixa para continuar a massacrá-la com o assunto.
- Por falar em obras, tenho a informar que já sou a feliz proprietária de uma linda casa… - Sónia atalhou, com esperanças de conseguir mudar o rumo da conversa.
- Bela casa? Aquela coisa a cair de podre? – A Anita exclamou imediatamente. – Aquilo vai acabar por desmoronar à mesma.
- Pela vista maravilhosa para o rio, nem que fosse uma barraca! – Sónia não se deixou abater. – E o Joca já me arranjou um pedreiro que, segundo ele, faz milagres e não é muito careiro. Amanhã vai fazer o orçamento e em breve faço a festa de inauguração.
Aquela última revelação foi o suficiente para começarem todas a dar palpites para melhorar a casa e torná-la habitável. Pelo menos o assunto “homens” terminou por ali. Na manhã seguinte, Sónia aguardava ansiosa a chegada do pedreiro, em frente à sua degradada casa.
Fascinada pela paisagem perfeita nem notou a chegada de um carro. Quando ouviu chamar o seu nome, virou-se e ficou estupefacta a olhar para o homem que tinha à sua frente. O primeiro pensamento que lhe passou pela cabeça foi: “Se a Ana Clara estivesse aqui ia ter de engolir as suas palavras.”
O pedreiro parecia ter saído de uma anúncio de televisão. Alto e musculado, a pele morena dava-lhe um ar exótico e realçava os olhos cinzentos-claros. Quando conseguiu abstrair-se da figura atraente, Sónia esforçou-se por focar a atenção na conversa e não nos músculos. Por sugestão do Bruno, o pedreiro, planearam fazer apenas o necessário para que ela se pudesse mudar e mais tarde, com calma, fariam as reparações mais significativas.
Sónia comprovou, nas duas semanas seguintes, a competência do pedreiro, e nem quis acreditar quando se mudou para a sua nova casa. A rotina instalou-se e, todos os dias, Sónia chegava a casa e o Bruno saía. As conversas giravam em torno das obras, mas com a convivência ele tornou-se mais expansivo. Por alguma obscura razão, saber que ele se estava a divorciar, deixou-a mais animada do que o habitual.
À medida que as obras iam avançado a casa tornava-se cada vez mais aquilo que idealizara, e tudo graças à habilidade do Bruno, que dava também sugestões muito úteis. Aos poucos, Sónia começou a esticar o tempo que passavam juntos. Como ele morava longe, nos dias em que ficava até mais tarde, ela convidava-o para partilhar o seu jantar. O calor começava a apertar, apesar do tempo ainda estar muito instável, ora chovia torrencialmente, ora fazia um calor que até parecia que o Verão tinha chegado mais cedo. Acatando a sugestão dela, o Bruno passou a tomar banho antes de sair.
Nos dois meses seguintes, a convivência entre eles fez desaparecer o constrangimento inicial, embora ele continuasse tão reservado como sempre. Sónia sentia-se frustrada por não conseguir penetrar na concha em que ele se escondia. Alguma da sua curiosidade ficou saciada no dia em que ele chegou mais tarde, e lhe contou que vinha do tribunal, onde acabara de assinar os papéis do divórcio. A medo, ela inquiriu-lhe se ainda gostava da ex-mulher. Para sua surpresa, o Bruno afastou a reserva habitual e conversaram longamente.
Infelizmente, no dia seguinte, ele voltou à sua atitude evasiva e Sónia ficou irritada por ter-se deixado iludir. Enquanto sentia cada hora a passar, decidiu ser honesta e admitir que estava verdadeiramente interessada naquele homem. As suas atitudes desajeitadas, nada tinham servido para conquistá-lo e em breve ele acabaria a obra.
Quando saiu do trabalho foi surpreendida por uma chuva torrencial. Ficou encharcada e tiritava quando chegou à porta de casa, com as roupas completamente coladas ao corpo. Concentrada em despir-se, não reparou que o Bruno ainda estava em casa, e tomava banho mesmo ao lado do quarto. Só com a roupa interior em cima da pele, detectou as roupas dele em cima da cama. Olhou para a porta e lá estava ele, apenas com uma toalha à cintura. Ficaram imóveis durante alguns momentos, olhos nos olhos, sem saber o que fazer. O silêncio era quebrado apenas pelo som das respirações meio alteradas. Sónia não conseguia desviar os olhos daquele corpo escultural e decidiu arriscar. Pegou nas roupas e dirigiu-se até onde ele estava. Bruno continuou estático, acompanhando os seus movimentos, que Sónia esperava serem de alguma forma sensuais.
Parou quando sentiu o calor masculino debaixo das suas mãos. Tocou a medo o peito moreno, segurando a t-shirt desbotada como um escudo. Lentamente, levantou a cabeça, até conseguir olhá-lo e esperou. Sentia o coração acelerado, os olhos cinzentos nada deixavam transparecer e ela pensou: “Ele deve achar-me ridícula, vou morrer de vergonha.”
Nisto sentiu que, por debaixo das suas mãos, o coração dele também batia mais rápido. Quando sentiu a boca dele na sua, e foi enlaçada pelos braços fortes, ficou aliviada. A sua aposta tinha sido arriscada, mas valera a pena. Não podia conhecer o homem dos seus sonhos e deixá-lo partir só porque ele era tímido.