quinta-feira, maio 24, 2007

Planos Perfeitos


Susana desligou o telefone com um sorriso estampado no rosto. Estava tudo combinado, para a surpresa que planeava fazer ao namorado. Ao fim de oito anos de namoro, por vezes, a imaginação começava a falhar. Desta vez, tinha certeza de que ele ia ficar todo derretido. O fim-de-semana de S. Valentim ia ser a desculpa perfeita para a tal escapadinha que andavam a pensar fazer há meses.


Graças ao conselho da Liliana, ia levá-lo até Alcácer do Sal. Iam ficar num retiro no Alentejo que, pelas fotografias, parecia quase idílico. Depois, para arrebatá-lo ainda mais, tinha marcado um passeio de balão, sobre as belas planícies alentejanas. A melhor parte é que o Sebastião não fazia a mínima ideia do que ela andava a planear. Esfregou as mãos de satisfação ao imaginar o espanto do namorado quando, na sexta-feira, lhe dissesse para arrumar as malas e partir à aventura!


O resto da semana passou rapidamente, mal se viram pois o Sebastião precisava terminar um projecto e andava tão atarefado que até se esquecia de lhe telefonar. Ligava-lhe quase de madrugada, cansado. Falavam uns minutos, deitados nas respectivas camas, até que ele dormitava e caia no silêncio. A saudade era muita, mas ela sabia que aqueles primeiros tempos no novo emprego iam ser assim. O sacrifício não era em vão. Em breve poderiam finalmente marcar a data do casamento e habitar a casa que tinham comprado há seis meses.


Na quinta-feira, no entanto, Susana apanhou um susto, quando ele lhe disse, pesaroso, que ia ter de trabalhar durante o fim-de-semana, caso não acabasse o projecto na sexta-feira. Irritada com o imprevisto e com a possibilidade de ter de cancelar o passeio, ela armou uma cena triste e chegou mesmo a ameaçar terminar a relação se ele não tivesse a capacidade de cumprir o prazo do trabalho. O Sebastião não compreendeu a pressão, nem a atitude imatura dela. Acabaram numa enorme discussão.


Desta vez, quando desligou o telefone, Susana não sorria. Deitou-se na cama e deixou correr as lágrimas de amargura. Devia saber que mais valia jogar pelo seguro! Ia acabar por ter de desistir dos seus planos e ainda por cima perdia o dinheiro que dera para sinalizar o passeio e o hotel. Na manhã seguinte acordou com olheiras e uma tremenda dor de cabeça. Decidiu que, se Sebastião não podia ir, ela não ia perder a oportunidade de apreciar o programa que idealizara com tanto carinho.


Durante a tarde ainda pensou em convidar alguém para ir com ela, mas depois achou que estava a ser precipitada, havia sempre a possibilidade do Sebastião reconsiderar. Infelizmente, até à hora que tinha estipulado para partir ele não deu notícias. Tristonha, Susana fez as malas e partiu para o Alentejo sozinha. Foi a chorar o caminho inteiro, o que dificultou a condução. Perto da estalagem, já em Alcácer, percebeu que estava a ser infantil. Aqueles dias iam-lhe fazer bem, precisava de analisar se valia a pena manter a relação, pois aquele tipo de situações estavam sempre a acontecer.


O quarto era tudo o que tinha imaginado, acolhedor e romântico. O empregado achou estranho a ausência do namorado. Um pouco irritada, Susana respondeu que ele viria no dia seguinte. Desmanchou a mala e depois foi à procura de um sítio para jantar. Encontrou um pequeno restaurante típico, perto do rio e concentrou-se na sua refeição solitária. O passeio de balão era só no Domingo de manhã, por isso tinha o dia seguinte para explorar as redondezas e apreciar o sossego bucólico. Voltou para o quarto, onde tinha deixado o telemóvel. Ficou ansiosa ao olhar o visor, mas não havia nenhuma mensagem de Sebastião. Estava a ser teimoso e a castigá-la, como sempre fazia quando ficava chateado com ela. Nesses oito anos estava farta de passar por situações semelhantes. Acabavam por fazer as pazes mas nunca conseguiam ultrapassar aqueles impasses sem antes se magoarem mutuamente.


Estranhou a cama e pouco dormiu, sempre a olhar sobressaltada para o telemóvel, temendo não o ouvir tocar caso Sebastião ligasse. Acordou com o raiar do sol, tomou o pequeno-almoço e partiu acompanhada por um mapa da região. Parou em Santiago do Cacém, onde visitou as ruínas romanas. Aproveitou para almoçar por lá e depois não se conteve e tentou ligar para Sebastião. O namorado não atendeu às suas inúmeras tentativas e ela desistiu, desanimada.
Não teve vontade de continuar a sua exploração e regressou à estalagem.


Quando entrou no quarto apanhou um susto: Sebastião estava deitado na cama, a dormir profundamente. Confusa, mas doida de alegria, acordou-o com beijos incontroláveis. Era sempre assim, o amor que sentia por ele fazia evaporar todos os problemas. Ele contou-lhe que ficou a trabalhar a noite toda, até conseguir acabar o projecto. Esperava encontrá-la em casa, mas ficou surpreendido quando a irmã dela lhe relatou o seu plano perfeito. Nem chegara a dormir, viera directamente para Alcácer, ansioso por vê-la.


Afinal, o fim-de-semana acabou por ser inesquecível. Andaram pela região, foram passear de barco no Sado e depois, no Domingo, Susana surpreendeu-o com o passeio de balão. Antes de abandonarem o paraíso alentejano, Sebastião pediu-a em casamento. Até decidiram a data e tudo! Lá ia Susana embarcar em mais uma aventura e em mais planos perfeitos!