Uma viagem atribulada
Alice olhou para o relógio irritada. Como sempre, a Luísa estava atrasada e isso significava que ia chegar tarde ao aeroporto. Culpa sua, que teimava em confiar na inexistente pontualidade da irmã. Sabia perfeitamente do seu problema com os horários. Achava que havia tempo para tudo!
Se bem que, desta vez, não tinha outra alternativa. A Luísa teimou em levá-la ao aeroporto. Suspirou cada vez mais exasperada, fazia mais de uma hora que estava à seca, andando feito louca pela casa.
Aproveitou para verificar se tinha desligado o gás e a água, reabasteceu a comida do Bijou, o seu gato persa. Coitadinho, mais uma vítima nas mãos da Luísa, caso ela se esquecesse de ir vê-lo durante a sua ausência. Para jogar pelo seguro, deixou-lhe bastante alimento e água, se bem que não o suficiente para os nove dias que ia estar ausente.
Abençoados nove dias! Infelizmente nem esse pensamento a animava pois estava tão fula com a retardatária.
A Luísa lá chegou finalmente, com um sorriso enorme, como se nada fosse.
- “Acalma-te” – Disse-lhe com uma palmadinha nas costas. –“Nem parece que vais de férias para o Brasil.”
Não adiantava discutir. Alice resignou-se a aceitar o facto de estar terrivelmente atrasada. Depois, para ajudar, o trânsito estava caótico e a irmã não parava de enumerar a longa lista de presentes para ela lhe trazer. Evitava olhar para o relógio, mas o mostrador luminoso do carro não a deixava esquecer que faltava apenas uma hora para embarcar.
Assim que chegaram ao aeroporto, Alice nem deixou a irmã estacionar. Saiu do carro num ápice, apanhou as malas e voou à procura do balcão de check-in.
Estava tudo contra ela, demorou a encontrá-lo e ainda teve de ouvir um raspanete da funcionária. Sem tempo para recuperar o fôlego, dirigia-se em passo acelerado para o portão de embarque quando soou uma voz fria a entoar o seu nome no altifalante. Só lhe faltava mais essa! Com o sentimento de culpa, parecia-lhe que todos a olhavam de soslaio, como se tivesse cometido algum crime.
Só conseguiu acalmar os nervos quando se sentou no seu lugar. Agora ia começar outro tormento: o pânico de estar num avião e a iminência da descolagem. Começou a torcer as mãos, a remexer-se no assento, a olhar medrosa para a asa do avião, mesmo ali ao lado. Como parecia frágil! Na sua loucura, reparou pela primeira vez no homem que ia ao seu lado. O seu parceiro de viagem observava-a com um ar descontraído e parecia estar a divertir-se com a sua exibição de covardia.
- “Estou cheia de medo.” – Confessou-lhe amiúde Alice, perdendo a vergonha perante o desconhecido.
- “Nota-se. Mas medo de quê?” – a simpatia parecia genuína e por isso, num momento de inesperado à-vontade, ela relatou-lhe a sua relação peculiar com as alturas. Em menos de nada estavam a conversar como velhos amigos e Rodrigo, que não hesitou em apresentar-se, tomou a si a tarefa de ajudá-la a ultrapassar aquele medo infantil.
Quando o avião começou a mover-se, Alice ficou hirta no assento, apertando tanto as mãos que estas ficaram quase sem circulação. O seu novo amigo desfez o golpe tenso e prendeu a sua mão na dela.
- “Prometo que isto não dói nada.” – Brincou com as palavras pois ele era médico.
Alice perdeu-se no azul dos seus olhos e sentiu-se contagiada pela sua calma. Não podia fazer figura triste ao pé de um homem tão interessante. Acabou por fazer um pouco de fita mas graças à sua intrínseca vaidade conseguiu controlar o choro.
Uma vez no ar, nada mais a perturbou. A companhia do Rodrigo era um óptimo calmante e passaram as sete horas da viagem a falar. Quando aterraram, Alice já estava a par de todos os acontecimentos relevantes da vida dele e vice-versa. Ficou satisfeita por saber que iam hospedar-se no mesmo hotel.
O regresso a Portugal não teve qualquer semelhança com a partida atrasada. Chegou três horas antes ao aeroporto, acompanhada pelo Rodrigo e cheia de emoções novas para contar. Não havia vestígios do familiar pânico, estava serena e apaixonada. Passara todos os momentos daquelas férias ao lado dele e, na noite anterior, tinham até partilhado o mesmo quarto.
Desta vez sentou-se à janela, mas com o olhar preso no homem maravilhoso que estava ao seu lado. O Rodrigo não largava a sua mão, prometendo-lhe mais uma vez que a ia ajudar a superar o medo. Alice não quis confessar que já nem se lembrava disso, pois ele podia ficar desiludido.
Cuidava dela com tanto carinho que era uma pena desperdiçar aquele momento. Portanto só lhe restava fingir, fazer um pouco de fita e deixá-lo ser o seu guardião. Com ele ao seu lado, como é que Alice podia pensar em outra coisa senão em nunca mais deixá-lo sair da sua vida? Antes muitas viagens atribuladas acompanhada do que sozinha e sem pânico.
Se bem que, desta vez, não tinha outra alternativa. A Luísa teimou em levá-la ao aeroporto. Suspirou cada vez mais exasperada, fazia mais de uma hora que estava à seca, andando feito louca pela casa.
Aproveitou para verificar se tinha desligado o gás e a água, reabasteceu a comida do Bijou, o seu gato persa. Coitadinho, mais uma vítima nas mãos da Luísa, caso ela se esquecesse de ir vê-lo durante a sua ausência. Para jogar pelo seguro, deixou-lhe bastante alimento e água, se bem que não o suficiente para os nove dias que ia estar ausente.
Abençoados nove dias! Infelizmente nem esse pensamento a animava pois estava tão fula com a retardatária.
A Luísa lá chegou finalmente, com um sorriso enorme, como se nada fosse.
- “Acalma-te” – Disse-lhe com uma palmadinha nas costas. –“Nem parece que vais de férias para o Brasil.”
Não adiantava discutir. Alice resignou-se a aceitar o facto de estar terrivelmente atrasada. Depois, para ajudar, o trânsito estava caótico e a irmã não parava de enumerar a longa lista de presentes para ela lhe trazer. Evitava olhar para o relógio, mas o mostrador luminoso do carro não a deixava esquecer que faltava apenas uma hora para embarcar.
Assim que chegaram ao aeroporto, Alice nem deixou a irmã estacionar. Saiu do carro num ápice, apanhou as malas e voou à procura do balcão de check-in.
Estava tudo contra ela, demorou a encontrá-lo e ainda teve de ouvir um raspanete da funcionária. Sem tempo para recuperar o fôlego, dirigia-se em passo acelerado para o portão de embarque quando soou uma voz fria a entoar o seu nome no altifalante. Só lhe faltava mais essa! Com o sentimento de culpa, parecia-lhe que todos a olhavam de soslaio, como se tivesse cometido algum crime.
Só conseguiu acalmar os nervos quando se sentou no seu lugar. Agora ia começar outro tormento: o pânico de estar num avião e a iminência da descolagem. Começou a torcer as mãos, a remexer-se no assento, a olhar medrosa para a asa do avião, mesmo ali ao lado. Como parecia frágil! Na sua loucura, reparou pela primeira vez no homem que ia ao seu lado. O seu parceiro de viagem observava-a com um ar descontraído e parecia estar a divertir-se com a sua exibição de covardia.
- “Estou cheia de medo.” – Confessou-lhe amiúde Alice, perdendo a vergonha perante o desconhecido.
- “Nota-se. Mas medo de quê?” – a simpatia parecia genuína e por isso, num momento de inesperado à-vontade, ela relatou-lhe a sua relação peculiar com as alturas. Em menos de nada estavam a conversar como velhos amigos e Rodrigo, que não hesitou em apresentar-se, tomou a si a tarefa de ajudá-la a ultrapassar aquele medo infantil.
Quando o avião começou a mover-se, Alice ficou hirta no assento, apertando tanto as mãos que estas ficaram quase sem circulação. O seu novo amigo desfez o golpe tenso e prendeu a sua mão na dela.
- “Prometo que isto não dói nada.” – Brincou com as palavras pois ele era médico.
Alice perdeu-se no azul dos seus olhos e sentiu-se contagiada pela sua calma. Não podia fazer figura triste ao pé de um homem tão interessante. Acabou por fazer um pouco de fita mas graças à sua intrínseca vaidade conseguiu controlar o choro.
Uma vez no ar, nada mais a perturbou. A companhia do Rodrigo era um óptimo calmante e passaram as sete horas da viagem a falar. Quando aterraram, Alice já estava a par de todos os acontecimentos relevantes da vida dele e vice-versa. Ficou satisfeita por saber que iam hospedar-se no mesmo hotel.
O regresso a Portugal não teve qualquer semelhança com a partida atrasada. Chegou três horas antes ao aeroporto, acompanhada pelo Rodrigo e cheia de emoções novas para contar. Não havia vestígios do familiar pânico, estava serena e apaixonada. Passara todos os momentos daquelas férias ao lado dele e, na noite anterior, tinham até partilhado o mesmo quarto.
Desta vez sentou-se à janela, mas com o olhar preso no homem maravilhoso que estava ao seu lado. O Rodrigo não largava a sua mão, prometendo-lhe mais uma vez que a ia ajudar a superar o medo. Alice não quis confessar que já nem se lembrava disso, pois ele podia ficar desiludido.
Cuidava dela com tanto carinho que era uma pena desperdiçar aquele momento. Portanto só lhe restava fingir, fazer um pouco de fita e deixá-lo ser o seu guardião. Com ele ao seu lado, como é que Alice podia pensar em outra coisa senão em nunca mais deixá-lo sair da sua vida? Antes muitas viagens atribuladas acompanhada do que sozinha e sem pânico.